Sunday, September 21, 2008

As (des)Conhecidas Expressões Populares Portuguesas

Sabia que o Terramoto de Lisboa de 1755 é um dos grandes responsáveis por muitas das expressões que ainda dizemos hoje em dia? E que “ter ouvidos de tísico” é o mesmo que ter ouvidos de quem tem tuberculose pulmonar?
Muitas das expressões que ouvimos no dia-a-dia nasceram há dezenas (ou até centenas) de anos. Contamos aqui a origem de algumas das expressões mais usadas pelos portugueses.

“O primeiro milho é dos pardais”

Significado: Os mais fracos aproveitam as primeiras vantagens.

Origem: No tempo dos Romanos, era costume os agricultores oferecerem os primeiros frutos das suas colheitas às aves. Pensava-se na altura que eram as aves que levavam as oferendas aos deuses. O conhecimento desse hábito foi-se transmitindo de geração em geração, até que, no séc. XVI – século em que o milho chegou à Europa – a expressão evoluiu. O pardal era o símbolo de todas as aves e o milho abundava nas culturas portuguesas.


“Caiu o Carmo e a Trindade”

Significado: Desgraça; aparato; barulheira; surpresa; confusão.

Origem: O Terramoto de 1755 deixou muitas marcas físicas. Mas há marcas culturais que também persistem. Uma delas é esta expressão. Durante o terramoto, ouviu-se um enorme estrondo por toda a cidade de Lisboa. Quando os habitantes descobriram qual tinha sido a verdadeira causa de tal barulheira, logo disseram: “Caiu o Carmo e a Trindade”, isto é, desabaram os Conventos do Carmo e da Trindade.


“Levar água no bico”

Significado: Ter intenções ou propósitos ocultos.

Origem: Na linguagem dos marinheiros, “navegar com água no bico” significava remar contra a corrente, levando água do mar na proa, o que tornava o mar traiçoeiro. A expressão foi adaptada e tornou-se naquela que conhecemos hoje.

“Ir para o maneta”

Significado: Estragar-se; desaparecer; morrer.

Origem: Conta-se que, por alturas da invasão de Portugal, por parte dos franceses, um General, chamado Loison, tinha perdido um braço numa anterior batalha. Esse General era responsável pelas torturas aos presos e tinha, inclusivamente, causado várias mortes. Por ser tão terrível nas torturas que executava, surgiu um medo popular do General Loison, mas ninguém o tratava por esse nome. Para o povo, Loison era “o maneta”. E quando havia perigo de se ser capturado, ouvia-se logo o conselho: “Tem cuidado, que ainda vais para o maneta.” Duzentos anos depois, o General Loison ainda vive nesta expressão habitualmente utilizada.

“Resvés Campo de Ourique

Significado: Por um triz; à justa.

Origem: No dia 1 de Novembro de 1755 – ironicamente, dia de Todos os Santos – uma das maiores tragédias de todos os tempos abateu-se sobre Portugal. Um terramoto de elevada magnitude, seguido de um tsunami, atingiu a cidade de Lisboa, matando milhares de pessoas. A força do tsunami foi de tal ordem que as águas entraram por Lisboa adentro e chegaram bem perto do Campo de Ourique. Foi resvés.

“Erro Crasso”

Significado: Erro grosseiro.

Origem: Na Roma Antiga, o poder dos Generais era tripartido. Chamava-se a isso um Triumvirato.
O primeiro Triumvirato de sempre era composto por Caio Júlio, Rompeu e Crasso. Foi dada uma simples missão a este último: atacar os Partos, um pequeno e, aparentemente, inofensivo povo. Crasso não se preocupou em treinar formações romanas e descurou qualquer tipo de estratégia. O resultado foi desastroso. O pequeno exército venceu facilmente e Crasso lamentou o seu erro. Mas o seu nome ainda vive.

“À grande e à francesa”

Significado: De forma luxuosa.

Origem: Jean Andoche Junot auxiliou Napoleão durante a primeira invasão de Portugal por parte dos franceses. Cá viveu durante alguns anos de forma extremamente luxuosa. A imaginação, a observação e a sabedoria populares encarregaram-se de criar esta expressão.

“Lágrimas de crocodilo”

Significado: Choro fingido; falsa tristeza.

Origem: O crocodilo, quando ingere um alimento, exerce uma forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as suas glândulas lacrimais. Isto faz com que o animal chore enquanto come as suas vítimas.

“Mal e porcamente”

Significado: De modo imperfeito; muito mal.

Origem: A expressão inicial nem era esta. Mas nem toda a gente compreendia o que queria dizer “mal e parcamente”, ou seja, com poucos recursos. Portanto, este advérbio foi facilmente alterado para algo mais acessível.

“Fazer tijolo”

Significado: Morrer.

Origem: A destruição causada pelo Terramoto de 1755 foi tremenda. Hoje em dia, é praticamente inimaginável. E a falta de recursos para a reconstrução também.
Com o objectivo de utilizar a argila para fazer tijolos, de modo a reerguer as casas que caíram, os restos de antigos cemitérios árabes foram reutilizados. Mas, entre a argila, eram frequentemente encontradas ossadas. Daí que tivessem surgido frases como “daqui a uns tempos estou a fazer tijolo” entre os populares.

“Andar em fila indiana”

Significado: Andar em fila; uns atrás dos outros.

Origem: Os índios americanos andavam sempre em fila para, à medida que fossem avançando, irem apagando as pegadas dos que iam à frente. Quando os “caras pálidas” viram este comportamento, não hesitaram em começar a utilizar o termo “fila indiana”.

“Fazer tábua rasa”

Significado: Esquecer completamente um assunto.

Origem: Os empiristas romanos, seguidores do filósofo grego Aristóteles, diziam que a alma sem experiência era como uma tabula rasa. A tabula rasa era uma pequena tábua de cera que não tinha nada escrito ou desenhado. Mais tarde, o termo foi adaptado à vida urbana e transformado para o significado que hoje conhecemos.

“Ter ouvidos de tísico”

Significado: Ter uma óptima audição.

Origem: Muitos soldados que combateram na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) sofreram uma doença chamada Tísica. Esta doença assemelhava-se muito ao que hoje conhecemos por tuberculose pulmonar. Quem sofre desta doença caracteriza-se por ter uma sensibilidade auditiva fora do normal.
Da próxima vez que disser que alguém tem ouvidos de tísico, tenha cuidado: podem ofender-se.

“Que maçada!”

Significado: Contratempo; chatice.

Origem: Nos tempos áureos das conquistas imperiais romanas, as tropas de Roma tinham uma zona para conquistar, perto do Mar Morto, chamada Massada. Os Zelotos, povo aí residente, trancou-se num templo, com esperança que os Romanos não os descobrissem. No entanto, o exército começou imediatamente a destruir o templo, enquanto o povo Zeloto desesperava por alguma solução. Para evitarem a humilhação da rendição, os Zelotos decidiram-se por um suicídio colectivo. Esta expressão tornou-se sinónimo da grande “chatice” pela qual teve de passar este pequeno povo.

“Queimar as pestanas”

Significado: Estudar muito

Origem: Aqueles que estudavam antes da existência da electricidade não tinham vida fácil. Estudavam à luz de velas ou lamparinas e, para que pudessem ler convenientemente, tinham de as colocar muito perto do texto, correndo sérios riscos de ficar com as pestanas queimadas.

“Calcanhar de Aquiles”

Significado: Ponto fraco.

Origem: Segundo a Mitologia Grega, Tétis, mãe de Aquiles, queria tornar o seu filho indestrutível. Para isso, mergulhou-o num lago mágico, segurando-o pelo calcanhar.
Anos mais tarde, durante a Guerra de Tróia, Aquiles foi atingido no único sítio que não tinha sido mergulhado nas águas mágicas. Descobriu-se assim o único ponto capaz de enfraquecer o temido guerreiro.

“Ficar a ver navios”

Significado: Decepção; não ter o que se deseja.

Origem: Em 1578, D. Sebastião perdeu a vida na batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos, mas muitos não quiseram acreditar em tal infortúnio. Por isso, era comum encontrarem-se “mirones” no Alto de Santa Catarina a olhar para os navios, à espera que o malogrado Rei regressasse. O povo logo começou a dizer mal daqueles que iam “ver navios” e a expressão implantou-se na sociedade.

"Não perceber patavina”

Significado: Não perceber nada; não compreender.

Origem: Frades provenientes de Pádua – patavinos - visitavam Portugal habitualmente, para se reunirem com os seus congéneres portugueses. No entanto, quando falavam com as pessoas que viam na rua, ninguém compreendia uma única palavra do que eles diziam.

“Assentar a carapuça”

Significado: Sentir-se ofendido ou identificado com alguma situação.

Origem: Por altura da Inquisição, durante a Idade Média, os judeus eram obrigados a usar um chapéu bicudo, para que pudessem ser distinguidos dos cristãos.

"OK”

Significado: Está tudo bem; não há problema.

Origem: Nos dias em que não havia baixas, durante a Guerra Civil Americana, os militares americanos chegavam alegremente às suas casernas e penduravam tabuletas à porta com as iniciais “O K”, que significava “0 killed” (zero mortos). A moda pegou e, hoje em dia, “OK” é das palavras mais ditas em todo o mundo.

“Obras de Santa Engrácia”

Significado: Interminável; sem fim.

Origem: Fundada em 1568, a Igreja de Santa Engrácia, na freguesia de São Vicente de Fora, em Lisboa, é a responsável por outra das mais famosas expressões populares portuguesas. Mais conhecida, desde 1916, como Panteão Nacional, a Igreja de Santa Engrácia ruiu em 1681 e começou a ser reconstruída, mas as obras duraram até meados do século xx. Portanto as “obras de Santa Engrácia” foram mesmo longas: duraram 350 anos.

Nelson Nunes

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

E coisas novas???=D

February 12, 2009 7:40 AM  
Anonymous Pedro Miguel said...

Eu gostei bastante do site. Boa informação e muito bem organizada. Só fiquei foi com os olhos a doer depois de ter mudado desta página preta para uma mais clara.
Pedia e perguntava se podiam colocar esta página com outra cor de fundo.

July 01, 2011 12:04 PM  
Anonymous ana said...

gostei muito ! adoro ver expressões populares, têm sempre tanto carisma e história por trás.

April 13, 2013 7:40 AM  
Anonymous ana said...

gostei muito ! adoro ver expressões populares, têm sempre tanto carisma e história por trás.

April 13, 2013 7:40 AM  

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